A minha Mãe
nasceu em 1914, no Monte Novo, algures num triângulo com as aldeias da
Conceição e Alcarias no concelho de Ourique, a uma légua de Messejana. Pelo
menos até ao exílio em 1965, não havia estrada decente que permitisse o acesso
por automóvel. No Inverno os automóveis tinham de ser desatascados por parelhas
de mulas e, quando havia enxurradas, o monte ficava pura e simplesmente isolado.
A instrução
primária fê-la na escola primária da Conceição. Depois e de entre os noves
irmãos, vai fazer o quinto ano (classe, como então se dizia) para o Liceu de
Beja. Seguem-se o sexto e sétimo em Évora e a licenciatura em germânicas na
faculdade de Lisboa (guardo o canudo!). Naquele tempo, uma gaiata de dez anos
sair do monte e fazer este percurso diz muito sobre a pessoa que era e veio a
ser.
No início
da década de 1950, gente boa de Aljustrel ajuda os meus pais e o Francisco
Serrano Gordo a criar um externato de que passou a ser directora. Hoje ninguém
percebe o que representou para cerca de vinte a trinta jovens por ano poderem
completar o então Segundo Ciclo do Ensino Secundário – o actual nono ano era
então um privilégio.
Nestes
dias, recordo dois factos singelos. Era bom aluno e no segundo ano tive média
de dezassete, com direito a prémio nacional. Apesar deste perfil, pelos meus
catorze anos a sua maior preocupação era incutir-me hábitos de trabalho.
Foi minha
professora de inglês, quase sempre me deu catorze e nunca mais do que catorze. Fartei-me
de barafustar, mas no exame nacional do quinto ano tive média de desaseis … com
catorze a inglês. A avaliação que fazia do filho era justa!
Dá para
perceber que entre Mãe e filho sempre houve um grande amor, mas sem excessivas
manifestações exteriores a que estamos habituados. Hoje recordo o percurso da
‘menina’ do monte isolado que singrou em Beja, Évora, Lisboa e se se impôs a
gerações de jovens de Aljustrel e arredores. E o que me vem ao espírito é a
justiça da sua avaliação e o legado em hábitos de trabalho. Parece estranho,
mas não é. Talvez seja diferente.
A foto é do
Liceu de Évora e a minha Mãe é a segunda, na primeira fila, a contar da
direita.
Lisboa 4 de
Maio de 2015
Sérgio
Palma Brito
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